terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ter manias pode ser doença; faça teste



Vestir-se com roupas de uma só cor, beber apenas o café feito por ele próprio e ser muito meticuloso na arrumação da cama ou da mesa do escritório. Se, na ficção, hábitos como esses fazem do personagem José Alfredo (Alexandre Nero), da novela “Império”, uma figura excêntrica; na vida real, pessoas que desenvolvem manias, muitas vezes, enfrentam um cotidiano de sofrimento. Quando se tornam rituais que atrapalham a vida pessoal e profissional, certas atitudes podem caracterizar o quadro de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), doença que precisa ser tratada.
Quando a mania é patológica — diferente de um simples capricho adquirido por fatores pessoais ou culturais —, ela se manifesta como um comportamento repetitivo, que causa incômodo ao indivíduo e aos outros. De acordo com o psicólogo Paulo Roberto Abreu, do Instituto de Análise do Comportamento de Curitiba, o problema costuma estar ligado à ansiedade ou ao medo de que algo ruim aconteça caso aquela atitude não seja ritualizada.
— A pessoa pensa que, se não lavar as mãos várias vezes, vai pegar alguma doença. Então, se ela não tiver aquela mania, o grau de sofrimento é enorme — explica Abreu.
Estudos mostram que cerca de 5% da população sofrem de TOC. A origem da doença está relacionada a genética, a mecanismos bioquímicos (de deficiência de serotonina, neurotransmissor ligado ao bem-estar) e a aspectos ambientais — como ser criado num ambiente marcado por frieza e cobrança excessiva. Segundo a psiquiatra Katia Mecler, coordenadora do Departamento de Ética e Psiquiatria Legal da Associação Brasileira de Psiquiatria, em geral, é difícil para quem desenvolve alguma mania reconhecer que tem o problema.
— A pessoa entra no comportamento automático e acha que as coisas são mesmo daquele jeito — diz.
O tratamento do TOC — que leva à cura quando bem orientado — é feito com terapia comportamental e medicamentos (em alguns casos).
Sem razão aparente
Manias podem aparecer em qualquer fase da vida (até em crianças), sem razão aparente. Em alguns casos, elas surgem ligadas a situações de estresse, como desemprego, falência ou separação conjugal, destaca o psiquiatra Marcio Versiani, professor titular de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fatores de risco
Pessoas muito meticulosas, inflexíveis e perfeccionistas têm mais tendência a desenvolver manias.
Mais comuns
As manias mais frequentes são de limpeza e checagem (quando é preciso verificar a mesma coisa várias vezes).
Crianças
Nos pequenos, em geral, é mais difícil diagnosticar a mania. “Os pais acham que é uma coisa boba, que vai passar”, afirma Versiani.
Papel da família
Não rotular a mania de loucura e ter compreensão com quem sofre do problema é fundamental. “Se a pessoa se sente acolhida, ela tem mais propensão a se tratar”, ressalta Katia Mecler.


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